segunda-feira, fevereiro 19, 2007


Antropologia e Inovação

Um exercício prático para o desenvolvimento de processos de inovação é a utilização de analogias. O exercicio consiste normalmente em duas fases. Uma primeira em que necessitamos de olhar para um determinado processo ou produto, e identificar quais suas linhas orientadoras, quais são as funções essenciais satisfeitas, os objectivos para os quais foi estabelecido/desenhado e a forma como os consegue atingir.
Uma segunda fase que consiste em, através de "pontes de analogias", procurar aplicar as mesmas ideias retiradas dessa observação em situações noutras àreas de actividade, completamente diferentes em termos de objecto de negócio.
Lembro-me de um exemplo, um dos primeiros computadores portáteis da Apple que eram complementados com uma doca onde podiam encaixar e funcionar como um computador de secretária. A base para o desenho do motor que sustentava o processo de ejecção do portátil da doca foi retirado de um brinquedo electromecânico que unia algumas das suas peças através de um motor de acoplação numa doca. A empresa de design responsável, através de um processo de analogia conseguiu uma abstracão suficiente para ver a aplicabilidade deste mecanismo utilizado num brinquedo, para o desenho do processo de interação doca/computador portátil.

Umas das dificuldades deste exercicio de analogia está em conseguir o nível de abstracção necessário para se encontrar as tais pontes de analogia . Para isso é necessário desconstruir (lá está!) aquilo que parece tão evidente e lógico num determinadao contexto para perceber:
  1. O principio, ou os príncipios básicos que sustentam o processo.
  2. Que mecanismos ou funções básicas, mas essenciais estão a ser utilizadas.
  3. Qual o objectivo, ou objectivos (abstrato) estão por detrás deste processo/mecanismo.
Muitas empresas americanas estão actualmente a contratar antropólogos não com o objectivo de reforçar as seus departamentos de recursos humanos, mas sim com o objectivo de dotar as suas àreas de operações e marketing (e de inovação) de uma nova perspectiva interpretativa da sua realidade. Pretendem com estes recursos esecializados aumentarem não só as suas capacidades de interpretação dos seus próprios processos, como também a capacidade de reinterpretarem aquilo que está pré-estabelecido na empresa. Como ciência que estuda o homem e as suas interacções na sociedade, as organizações pretendem utilizá-la para redescobrir novas ideias e métodos de desenvolvimento dos seus produtos e serviços e compreenderem melhor as reacções dos mercados.
Este exercicio de analogias será certamente mais bem sucedido se por uns momentos colcocar-mos o nosso chapéu (Bono E.) de antropólogo para olharmos para os problemas.
Bom, e se lhe pedissem para desenvolver uma metodologia de planeamento de tarefas com base nas guias de faixa sonoras utilizadas nas auto-estradas, o que sugeria? :)

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Desconstrução

Chama-se Desconstrução, perdão Construção.
Uma velha música de Chico Buarque, para nos ajudar a desaprender algumas coisas. Por vezes uma ideia inovadora surge da desconstrução daquilo que nos parece evidente e com um fim já estabelecido, mas quando visto de uma nova perspectiva ...
Seja numa fotografia, numa música, num processo, num programa, num sistema, redescrobrir passa também por descontruir.
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado